sábado, 12 de novembro de 2011

      Eu inventei um ser. Desenhei seu rosto e cada expressão. Quando ele estava feliz, sorria com gosto e quando sentia medo, crescia-lhe os olhos.  Até a tristeza era bonita nele, e, propositalmente, o meu ser não sabia formar um rosto para a raiva. Criei frases e pensamentos, testei cheiros e cores. Sobre mim ele sabia apenas o que me interessava que soubesse; sobre o mundo ele sabia mais do que se poderia imaginar. Aquele meu ser passava os dias comigo e gostava de cada palavra que eu dizia. Até que um dia percebi algo que não era meu nele, um jeito estranho no movimento das pupilas, das mãos, da cabeça... Como lançava teorias novas e inventava analogias... O meu ser já não era mais meu. A minha invenção agora estava lapidada e tinha a capacidade de conhecer tudo em mim através dos meus gestos, tons, pausas...
          A partir daquele instante, passei a amá-lo.

Um comentário:

  1. Cheguei no teu blog por acaso e gostei.
    O nome é lindo e os textos, ótimos.
    Vou te seguir e voltar depois.
    Um abraço

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