segunda-feira, 8 de novembro de 2010

As letras vinham meio perdidas

No meio das folhas do livro

Aquelas informações meio sem sentido

Em meio a gráficos e estatísticas

Provaram que tudo era meio insosso

Mera questão de oxitocina e não existia meio-termo

Meio cá meio lá eu acabei perdendo a certeza

E me vi sentada naquele meio-fio

Em um meio que não me pertencia

Meio atônica e amuada

O sol do meio-dia fervendo a cabeça

Apenas na companhia do meio–busto que me fitava pensativo

E foi por meio dele que concluí:

Aquela atopia científica meio lógica

Não passava de um meio utópico de classificar o amor

domingo, 17 de outubro de 2010

Ontem me peguei pensando no quão inútil o cotovelo é! Se fosse substituído por um parafuso ou algo do tipo, ninguém sentiria falta. Uma das partes do corpo mais desobedientes e indisciplináveis! Desobediente porque antes que se perceba já está se apoiando em algo – normalmente onde não deveria apoiar-se – e indisciplinável porque é impossível puni-lo, visto que o cotovelo praticamente não sente dor alguma! Por mais que a mão se esforce ao beliscar, ele sempre passa ileso. As mãos também têm lá sua incômoda independência... Quem as dá o direito de tapar os olhos na melhor cena do filme?! Falta ao corpo comunicação, certamente, ou o que explicaria as palavras que a boca solta, sem perguntar aos pensamentos, sem deixar o ar sair, sem que a memória tenha tempo de guardá-las?! O que explicaria a dança dos pés prestigiando uma música que o cérebro rejeita? O cérebro, responsável por tudo o que acontece em cada centímetro do corpo, não consegue controlar seus pupilos, mesmo usando estratégias desleais como sonhos ruins, crises depressivas que resultam em atitudes involuntárias... A verdade é que o corpo só obedece a uma voz, que às vezes passa dias, meses e até anos sem dizer uma só palavra, mas que, quando resolve mandar, até o esquecido cotovelo obedece sem questionar. Essa voz confunde desde o dedão do pé até os escondidos tímpanos, faz os olhos mudarem de opinião quanto à beleza das coisas e a pele fingir que está frio em pleno dia de sol! Então, quando tudo parece que vai sair do controle, a voz paralisa cada músculo, cada pensamento e diz pro cérebro que o nome disso é amor. E é nesse momento que cada célula do corpo entende que a única ordem impossível de se ignorar é a do coração.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Descrição

O salto deixa o chão delicadamente

E volta a tocá-lo

Como um cetim caindo sobre a pele

O chão ganha desenhos imaginários

De círculos imperfeitos

Mas que ficam em harmonia

Com os outros muitos

Que há pouco foram desenhados

Segundo as regras dadas pelo ar

Ar pesado de ritmo.

Círculos perfeitos roubam a cena,

A atenção e tudo mais

Olhos atentos aos olhos alheios

-Nossa primeira dança-

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Mar de Rosas

Foi de súbito! De repente os sentimentos se viram quietos demais, parados no espaço como se estivessem num vácuo inesperado. Nada de intenso surgia pela mente que, como que em filmes de ficção, sentia-se sugada, oca. Só era possível captar paz. Os sorrisos, as cortesias, afagos, conquistas... tudo estava guardado na “meia-memória”. A lembrança tratou de jogar fora os maus bocados que pesavam inconscientemente. Tudo o que justificava a existência do rancor e dos males que o mundo trazia fora ignorado de uma hora para outra. Não como uma opção! Não! O corpo simplesmente resolveu tomar as suas providências, e os outros seres do mundo – todos eles!- fizeram o mesmo. Eu... Ah, eu... Que era dura feito uma rocha, azeda e inexorável, fiquei oca. Sim, oca! O conhecimento não encontrava uma forma de entrar em mim! Eu não precisava mais da educação que aprendi quando menina. Quem lembraria as minhas ofensas? As mentes livravam-se imediatamente das lembranças ruins, sem deixar tempo para tristezas, raiva ou revide. Então, como o previsto, era também o fim das reconciliações, desentendimentos, corações partidos, provas de amor... Aliás, o amor ficou seco, sem sentido. Se só existia amor, qual a importância que ele teria?

Então a vida virou um verdadeiro mar de rosas. Rosas penduradas num dos quadros da parede.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Javali

Como quem lamenta muito ela me disse e eu imediatamente questionei:
- Um javali? Por que justo um javali?
Ela não tinha uma resposta, simplesmente deu de ombros e suspirou. Com tantos bichos no mundo ela queria justamente um javali?! Não fazia sentido algum para mim:
- Por que não um gato felpudo ou um cachorrinho pidão? Um coelho branquinho ou ainda uma chinchila?!
Ela jogou-me um silêncio que ecoou pela sala. Pensei que poderia dar-lhe mais opções:
- Tem gente que cria iguanas ou miquinhos. Já vi até cobra e aranha tratados a pão-de-ló!
Ela olhou-me fixamente:
- A escolha já está feita!
Eu dirigia e ela indicava o caminho. Faria a sua vontade, mas não teria como entender a estranha preferência. Pensava nos possíveis motivos... nada parecia razoável! Quem sabe não estava em busca de algum animal mais selvagem? Um tigre não seria melhor, nesse caso? Pelo menos seria extremante belo e com porte de felino, ao contrário de um porco desengonçado e peludo! Ela olhava através da janela ansiosa pela chegada, estava deveras decidida, mas eu ainda via um lamento naquele olhar:
- Tudo bem, nós vamos buscá-lo, eu respeito a sua decisão. Não precisa ficar assim...
- Você não entende... Eu quero muito esse javali, mas ele não me quer!
Pulou do carro nesse instante quase junto com a parada dos pneus! O lugar era aberto, um grande pasto. Ela andou devagar se aproximando de uma touceira e logo apareceram dois pequenos olhos no meio da vegetação. Eu não precisava de mais nada! Estava claro feito o sol... Cinco segundos olhando nos olhos do animal para entender o que ela sentia. Duas horas inteiras para concluir que eu também não saberia explicar!
Antes que se pudesse pensar, o javali sumiu por entre as árvores que rodeavam o pasto.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A FALTA

Um vazio de palavras que não suporto! Os sentimentos por vezes são tantos que os pensamentos não acompanham de modo algum. Correm, mas não chegam! Indecifráveis verdades rondam meus dias... e as noites são absolutamente mudas. Dê-me ao menos notas ou sorrisos e lágrimas! Grite, mas esteja! Desvende meus olhos, oras! Mas, faça-me o favor: explique-me... se as palavras sumiram no exato momento da sua ausência, não acha que em algum bolso seu elas devem estar? Como então devo falar-te da falta que me faz se tudo o que me resta são letras esparsas? Complicado te encontrar... mais complicado ainda te deixar.

terça-feira, 13 de julho de 2010


Pés de veludo...

Passo a passo

Suavemente atravessam o corredor

Tateando o ar num arriscado breu

A invasão era inevitável, fato

Hora ou outra recuperariam o que lhe fora roubado

Os pés seguem firmes

Encontram o quarto aberto

Simples missão...

Estaria sobre a cama, certamente

O cuidado teria de ser extremo

A ameaça seria enfim cumprida

Justo!

O pobre sono, que passaria ileso,

Sentiu o gosto da rejeição

E aquele que só por essa noite seria o bandido

Fora mais uma vez roubado...

Lá se foi mais um beijo!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Você

Com esses grandes olhos de jabuticaba

Grandes para mim...

Pretos como aquela noite

Quando o escuro aprendeu a ter luz, e ainda sim ser escuro...

Você

Que fala com as mãos, os pés, a nuca

Poupando a boca de muitas palavras

Esperando que os lábios só saibam beijar

Você

Um copo de vinho, um sofá e um filme

Tão previsível final

Inusitadas lágrimas

Você

E seus dedos encontrando as notas

Me procurando pela sala, talvez?

Você

Simplesmente comigo

Eu

Simplesmente com você

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Pouco de tudo

Naquele momento a saudade esperava mais

Mais emoção

Mais vontade

E até mais agonia

A saudade achou que era muito grande

Mas o corpo reagiu de forma estranha,

Calmo demais

Ficou seco

Uma dorzinha contínua, mas fraca

A saudade não parou como deveria

Saudade estranha essa que fica mesmo quando não tem motivo de ser

Pois como sentir falta de alguém que está presente?

E como sentir tão pouco de tudo?

Vai ver não fazia tanto tempo...

Vai ver a importância era pequena...

Pode ser que até que nem merecesse emoção alguma

Mas, certamente, era saudade.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Coisa de segundo

Passos lentos

Arrastados

Complicados

Confusos e silenciosos

Até o ar sai em silêncio

Como se precisasse se esconder

Como se fosse errado se mover

A boca nem se atreve a abrir

Mas também não consegue se manter serena

Fica tensa e mordisca os lábios

Enquanto os olhos acompanham tudo

Absolutamente tudo

Até o ar que não sai

Até a lembrança que não some

Até a água que deles não cai

E os passos...

Lentos...

Flutuam por falta de opção

Pelo menos até encontrarem outra vez

O chão.

terça-feira, 22 de junho de 2010




No meio da noite
Sentada no banco
O banco que se esconde atrás do jardim
A madeira é aconchegante
Ela entende como a solidão é má
A madeira e a menina
A menina é má ou a menina entende?
Não importa
A lua não precisa de detalhes para consolar
A menina percebe que não está sozinha
Ela tem o gelo do banco e o rosto da lua
O rosto que a menina aprendeu a notar cedo
Via nele um rosto triste
Onde a mãe via um coelho

Começo

Não é de hoje a ideia de fazer um blog. Faz tempo que tenho enrolado, mas finalmente aqui está!
Vou escrever os tantos textos que costumam amarelar nas páginas dos meus cadernos. Não é como um diário ou como um site de dicas de coisa alguma... são apenas palavras que passam por mim. Algumas delas viraram músicas, outras cartas...
Também pode ser que aqui fiquem guardados alguns textos que me emocionaram ou as cartas que tenho, tão românticas, que a minha querida bisavó mandava para meu bisavô.
Enfim, é um pedacinho de mim.
Beijos.